Necessidades especiais
Clotilde Tavares | 13 de agosto de 2009Este blog foi indicado o blog da semana no VejaBlog. Uma coisa muito simpática, que toda “a equipe do Umas & Outras”, ou seja, eu mesma, fiquei muito feliz. Você, que vem aqui e lê estas mal-tecladas linhas, é responsável também por isso. Continue chegando junto, que só nos dá prazer.
No tempo em que eu escrevia na Tribuna de Norte, em Natal, jornal no qual sustentei coluna semanal aos domingos durante dez anos, era para mim uma diversão ver como a pessoa que editava o caderno me chamava. A cada semana, era uma coisa diferente. Ao lado do meu nome, na cabeça da coluna, uma palavra nova: professora, escritora, colaboradora, poeta e também combinações dessas atividades, como “poeta e professora”, por exemplo. O jornal usou por algum tempo essas denominações diversas, na tentativa meio frustrada de tentar explicar o que eu sou e o que mais me caracteriza em termos de atividade, coisa que nem eu mesma sei e nem toda uma geração de terapeutas consegue explicar, como essa minha mania danada de variar.
Isso me faz refletir sobre a maneira como somos conhecidos e nomeados quando nosso nome chega às páginas de um jornal ou a um noticíário de televisão. Você talvez já tenha passado pela situação de ser assunto, ou tema, ou participante, ou entrevistado de uma matéria jornalística. E lá, no texto, não consta somente o nome da pessoa: consta também a ocupação, ou profissão, ou atividade que a criatura desenvolve na sua vida social. E é aí que a coisa começa a ficar engraçada, porque as denominações usadas para as pessoas são às vezes muito curiosas.
Por que não chamar o cara que tem um quiosque na praia ou no shopping de “comerciante”? Não é isso que ele faz? Não comercia seus produtos? No jornal, não. No jornal ele vira “o permissionário de quiosque Fulano”. Quer outra? “Foi assassinado o braçal Sicrano…” O “braçal”? Deve ser um trabalhador braçal, mas “braçal” assim, solto, fica engraçado. E aquela moça simpática que trabalha para uma empresa atendendo os clientes se transforma na “contato comercial Maria de Tal…” E um dia desses li uma notícia em que a pessoa era nomeada como “o evangélico Fulano”, muito embora a matéria não tratasse de religião nem sobre qualquer coisa ligada à igreja.
O jornal – ou telejornal – certamente tem nas suas regras ou nos seus manuais de redação parâmetros para essas classificações. E isso obviamente difere de jornal para jornal, porque em uns encontramos coisas mais engraçadas e curiosas do que em outros. Compreendo o trabalho dos profissionais da imprensa e a sua busca por excelência, muitas vezes dobrando horário, reescrevendo, conferindo informações, procurando o melhor texto. Filha e neta de jornalista, respeito demais essa atividade, muito embora às vezes goste de refletir um pouco sobre suas curiosidades, como estou fazendo agora.
Para encerrar, deixei para o final a melhor de todas, que encontrei em uma matéria que dizia “o portador de necessidades especiais Fulano de Tal…” Essa foi demais, minha gente. É genérico demais para o meu gosto porque, ao pé da letra, se eu alimento o sonho de um dia ter um encontro com Brad Pitt eu também posso ser classificada como “portadora de necessidades especiais”! Afinal, vocês hão de convir que não existe nesse mundo nada mais especial do que o belo, portentoso e deslumbrante Brad Pitt.
Zalk,
No meu site de genealogia onde escrevo – tento escrever – a história da família falo nisso.
Acesse o link http://www.clotildetavares.com.br/genealogia/theotonio_homonimos.htm e depois de rolar a tela passando por cima de uma ruma de Theotonios vc vai ver dois textos, sobre nome e sobrenome.
O segundo atende à sua questão.
Clotilde, ou
Clautide, de Creuza, de seu Pedro Quirino, lá de Boqueirão de Coxixola.
Oi Clotilde,
Quando assisti “o inglês que subiu a colina e desceu a montanha” achei curioso que os personagens tinham seus nomes associados à suas profissões tipo: fulano professor, cicrano taverneiro ou beltrano pastor.
Daí lembrei como chamamos uns aos outros no seridó pela associação com o nome do pai, mãe, ou marido/esposa. Por exemplo, minha avó era Paulina de Zé Romão (meu avô), minha mãe era Vanete (Ivonete) de Paulina de Zé Romão. Penso que eu, por conseguinte, devo ser Zocáide de Vanete de Paulina de Zé Romão. rsrsrsrs
Vc já escreveu algo sobre essa forma de dar nome às pessoas?
Bjao.
PS. O texto sobre a moça, o rapaz e o sistema está fazendo sucesso no meio tecnológico. rsrsrsrs
Querida Clotilde,
Voce ja deve estar cansada de saber mas aproveito para te dizer mais uma vez que sou sua fa, tenho orgulho de te conhecer pessoalmente e o “Umas & Outras” eh um blog maravilhoso, inteligente, divertido e atual.
Beijos, Dalia